27 DE MAIO/09 DE JULHO
É sempre possível não olhar…
Nos relevos destes rostos procuro os caminhos de um território a explorar, paisagens de encruzilhadas e trilhos desenhados pelo tempo, mapa encriptado, gravado e impresso nos rostos de mulheres.
Percorro-as à procura das suas histórias, que se contam em cada olhar, em cada sorriso, em cada ruga. Oriento-me por este mapa de coordenadas incertas, e cujo norte (ou sul) é definido pelos afectos.
É sempre possível não olhar…
Nas sucessivas camadas gravadas perscruto-as, preciso de as ter comigo, de as homenagear como se reunisse nestas todas aquelas que fazem parte da minha própria história. Mulheres que conheci, que senti, que vivi, que estimei, que admirei e que lamentei. Que conheço, que sinto, que vivo, que estimo, que admiro e que lamento.
É sempre possível não olhar…
Cada saliência gravada convida-me. Entro e sinto estes rostos, penetro nas suas marcas.
Experimento estes rostos que me deixam penetrar e que me penetram. Experimento a sua juvenilidade esperançosa e apaixonada e a velhice sábia e conquistada…
Nas marcas riscadas pela mão, gravadas pelos ácidos e reveladas pela tinta desvendo as camadas das suas existências.
Acaricio a chapa, em gestos dedicados à sua presença.
Acaricio a chapa como se afagasse cada olhar, cada ruga, cada expressão, cada gesto.
Procuro na chapa o meu reflexo…
É sempre possível não olhar…mas não consigo.